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Cão bombeiro que participou de buscas em Brumadinho é adotado e vira ‘recepcionista’ de clínica veterinária

O cão Shogun que participou das buscas por corpos de vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, atualmente é “recepcionista” de clínica veterinária em Campina Grande, no Agreste da Paraíba. Nesta quinta (25), completou cinco anos da tragédia que matou 272 pessoas — 267 delas identificadas.

De acordo com o tutor de Shogun, o major Edson Ferraz do Corpo de Bombeiros da Paraíba, o cão é levado todos os dias para uma clínica veterinária no bairro do Catolé, na zona sul de Campina Grande, onde sua esposa é proprietária, e o Shogun aproveita para interagir com as pessoas e pets no local.

“Brincamos dizendo que ele [Shogun] é recepcionista [da clínica]. Todos são apaixonados por ele porque ele adorava ficar na frente com as pessoas. Ama ficar no ar-condicionado da recepção”, explicou o tutor.

Shogun é um cão da raça labrador, se aposentou com nove anos de idade, no ano de 2022, e, no mesmo ano, recebeu uma homenagem numa solenidade de aposentadoria do cão, no Centro de Convenções, em João Pessoa. Após a carreira no Corpo de Bombeiros, ele foi adotado pelo major Edson Ferraz e está com 11 anos de idade.

Shogun participou de buscas por vítimas em Brumadinho por 45 dias

Shogun foi treinado desde cedo para trabalhar no Corpo de Bombeiros, e teve no sangue da família essa referência. O cão nasceu num canil da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Recife, em Pernambuco, sendo que a mãe do Shogun fazia buscas por drogas e o pai foi treinado para buscar armas de fogo e explosivos para a PRF. Desde muito novo Shogun foi treinado para ser especialista na busca por cadáveres.

Em janeiro de 2019, a barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, se rompeu, causando a morte de 272 pessoas e espalhando resíduos de minério pela bacia do Rio Paraopeba. Militares de todas as partes do Brasil foram enviados para a região para auxiliar nas buscas por pessoas, e o major Edson Ferraz e Shogun foram escolhidos para ir à Minas Gerais.

Shogun foi enviado para Brumadinho cerca de seis meses após o acidente. O rompimento da barragem aconteceu em janeiro, e seis meses depois a equipe da Paraíba foi solicitada para ir para a operação.

O cão foi para Brumadinho por três vezes, e em cada ida ele passava 15 dias trabalhando na busca por corpos de pessoas no local do acidente. Ao todo, Shogun passou 45 dias no local. Em Brumadinho, Shogun conseguiu localizar 16 restos mortais – não teve nenhum apontamento de corpo inteiro, foram encontrados, apenas, pedaços de pessoas em 16 pontos.

O major Edson foi enviado para Brumadinho duas vezes num período de 30 dias – com trabalho fracionado em 15 dias na primeira ida de trabalho e mais 15 dias numa segunda oportunidade -, e nas duas oportunidades com Shogun ao lado. O cão ainda foi para Brumadinho uma terceira vez, por 15 dias, sendo que, desta vez, com outro condutor.

Após carreira no Corpo de Bombeiros, Shogun foi adotado

Após o trabalho em Brumadinho, Shogun voltou para a Paraíba e trabalhou por mais três anos até se aposentar em 2022, na época com nove anos de idade. O tutor de Shogun, o major Edson Ferraz, explicou que cães farejadores trabalham até cerca dos oito anos de idade, mas que Shogun trabalhou por mais um ano em áreas de menor atuação, devido a experiência do cão.

Após se aposentar das funções do Corpo de Bombeiros da Paraíba, Shogun entrou na lista de adoção, e o major Edson era a prioridade na lista para adotar o cão.

“Os cães trabalham até 8 anos [de idade], o Shogun trabalhou até os 9. Após os nove anos, foi aberto o processo para doação, então como eu fui o condutor do Shogun desde pequeno, eu tenho preferência na hora da adoção. A preferência era minha e eu o adotei”, explicou o tutor.

Do trabalho para a vida, Shogun agora faz parte da rotina de Edson Ferraz, agora no cotidiano. Após quase dois anos de adoção, o major celebra o trabalho desempenhado pelo cão ao longo da vida e enaltece a relação dos dois.

“Minha relação com o Shogun sempre foi de muito companheirismo, amizade, é um cão muito fiel. Se não fosse ele, muitas coisas não teriam um desfecho. É importantíssimo o trabalho dele”, disse Edson Ferraz.

E em casa Shogun tem uma parceira, a Fúria, que é uma cadela que, assim como Shogun, foi treinada pelo tutor, só que ela para buscar pessoas que estão desaparecidas.

Por Erickson Nogueira, g1 PB

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